30 maio 2007

Aula de Hoje... II

Maneki Neko

(Gato da Sorte)

Entre os mais conhecidos talismãs (engimono) está o manekineko, um gato com uma pata levantada. Esta figura é vista no Japão como símbolo de boa sorte, acenando para a prosperidade e sucesso nos negócios, com a sua pata curvada.

O gesto do manekineko que parece ser um convite, na verdade é o gesto de um gato limpando seu rosto.

O gato é um animal tão sensitivo, que pressente a chegada de uma pessoa ou a aproximação de chuva. Essas mudanças em sua rotina, o deixam inquieto. Então, ele começa a dar voltas ou esfregar seu rosto, pois esse tipo de comportamento tranqüiliza-o. Mas para um ser humano isso pode ser interpretado como “se o gato esfrega seu rosto, é sinal de chuva ou de visita”. Essa pode ser uma das origens da lenda do manekineko.

Como o gesto do gato esfregando seu rosto assemelha-se a um aceno, as pessoas começaram associar que, colocando a figura de um gato levantando uma pata dianteira, as pessoas viriam.

Ele usa uma coleira vermelha com um sino. Isso é uma lembrança dos costumes do período Edo (1603 - 1867), quando o gato era um animal de estimação caro. As damas da corte agradavam seus gatos, colocando-lhes coleiras vermelhas, feitas de hi-chiri-men (tipo de tecido de luxo da época) e pequenos sinos para vigiá-los.


Geralmente o manekineko segura um koban (uma moeda dourada do período Edo). Contudo, o koban real é de um ryo; o koban do manekineko é de dez milhões de ryo. Ou seja, a moeda fictícia é um símbolo de riqueza e prosperidade.

Obs.: Atualmente eles são fabricados em variedades, como cores diferentes para justificar um desejo específico (preto para proteção; rosa para o amor; dourado para dinheiro; vermelho para saúde; o gato manchado dá boas-vindas aos clientes e traz sucesso empresarial e felicidade pessoal). Além das cores, existem os gatos com a pata esquerda ou direita levantada. Dizem que a pata esquerda atrai riqueza e bens materiais; e a pata direita atrai a pessoa amada ou ajuda a encontrar um grande amor. Mas, apesar dessas inúmeras versões sobre cores e patas, até hoje nenhuma é realmente considerada verdadeira.

Aula de Hoje...

Manekineko(Gato da sorte)


Bibelôs como este são colocados
em vitrines, balcões de bares e
em outros estabelecimentos
comerciais com a finalidade
de atrair clientes.

Conta a lenda que, no período Edo,
nos anos de 1781~ 1789, havia
uma loja na cidade de Edo
chamada "Gato de ouro-prata".
Todas as vezes que o gato
"lavava a cara" com a pata
diateira entrava um freguês
na loja.
Ainda nos dias de hoje, é comum
encontrar o gato da sorte próximo
à porta de entrada de lojas e
restaurantes, pois acredita-se
que o Manekineko com a pata
esquerda levantada atrai visita
ou freguesia, e com a pata
direita, dinheiro.

19 maio 2007

18 maio 2007

Animais do folclore japonês - Parte II


Animais do folclore japonês

Kitsune e Tanuki

Na primeira parte deste assunto, foram apresentados o gato e o cachorro. Conheça, agora, os animais mais populares da Cultura Japonesa.


Kitsune

Kitsune: esperteza e astúcia para planos bem-sucedidos

A raposa, kitsune, é conhecida, desde os primórdios, por seus extraordinários poderes sobrenaturais. Extremamente inteligente e astuta, acredita-se que ela possua a capacidade de mudar de aparência, transformando-se, geralmente, em belas mulheres para ludibriar os homens. Há ainda a crença de que as raposas podem possuir o corpo de seres humanos e apenas monges especiais conseguiriam exorcizá-las.

Na literatura, a referência à raposa pode ser encontrada já no Nihonshoki (Crônicas do Japão), primeira crônica histórica oficial, compilada em 720. Narrativas de raposas que se transformam em mulheres para ludibriar os homens, muitas vezes tornando-se suas esposas* podem ser vistas em obras como Nihon Ryôki (Relatos Milagrosos do Japão), do século IX, ou Konjaku Monogatarishû (Coletânea de Narrativas de Hoje e de Outrora) do século XII.

Embora a imagem difundida da raposa seja a de um animal malévolo, no templo de Fushimi Inari, em Quioto, a raposa é reverenciada como a divindade guardiã e emissária do deus do arroz do xintoísmo, Inari. Portanto, nos arredores do templo há várias estátuas em reverência ao animal.

Na língua japonesa, podem ser encontradas algumas expressões que fazem referência às crenças em torno da raposa, como: kitsunebi (“fogo-fátuo”) e o kitsunetsuki (“o estar possuído pela raposa”). Ainda na culinária japonesa, há um prato chamado kitsune udon , feito de macarrão tipo udon com pedaços de abura-age (tofu frito), que se acredita ser o prato preferido das raposas.


Tanuki

Tanuki: aspecto gorducho e, em geral, imagem de animal brincalhão

O texugo japonês, tanuki, é, juntamente com a raposa, o animal mais presente nas lendas do imaginário japonês e é, normalmente, retratado com barriga e testículos protuberantes e segurando uma garrafa de saquê em uma das mãos. Nas obras mais antigas, a identificação do tanuki ainda é incerta, podendo referir-se a animais como itachi (“doninha”), ten (“marta”), musasabi (“esquilo voador”) ou o próprio tanuki. Uma definição mais precisa do termo tanuki vai ocorrer a partir da Era Edo (1603–1868), quando acaba por identificar-se com o texugo japonês. Por sua aparência gorducha, o tanuki possui a imagem, diferentemente da raposa, de um animal brincalhão, cujas ações poderiam ser consideradas divertidas, ao invés de cruéis.

A principal crença em torno do tanuki é a sua capacidade de mudar de forma, transformando-se, na maior parte dos casos, em homens. Contudo, o tanuki, geralmente, não obtém tanto sucesso na execução de seus planos, como ocorre com a raposa. Como exemplo, acredita-se que, por gostar tanto de saquê, ao sentir seu cheiro, o tanuki esquece-se de seu disfarce – quando nessa condição – e levanta o rabo, revelando sua identidade.

Uma das histórias mais conhecidas sobre o tanuki é Bunbuku Chagama (“Chaleira que espalha felicidade”), na qual um tanuki liberto de uma armadilha retribui a gentileza a seu salvador. A história popular, Kachi Kachi Yama (“A montanha kachikachi”), constitui um dos raros exemplos em que se enfatiza o lado cruel do tanuki, que serve a um homem uma sopa feita com o corpo da esposa deste. Este aspecto cruel estaria relacionado com o significado primordial do ideograma , que, na China, indica o nome genérico de felinos selvagens.

O tanuki também aparece em muitas expressões da língua japonesa, como tanuki oyaji (“velho astuto”), tanuki neiri (“sono fingido”), por conta do costume desses animais de fingir-se de morto ou adormecido quando surpreendido.

*Narrativas classificadas nos estudos folclóricos como Kitsune Nyôbô, a esposa-raposa.
Colaboradores: Aline Majuri Wanderley e Pedro Ferreira Perrenoud Marques
Revisão: Profa. Dra. Junko Ota

Crédito
Bolsistas de Toyama 2005/2006, do curso de Língua e Literatura Japonesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Coordenação: Prof. Dr. Koichi Mori. Assessoria técnica: Patrícia Izumi, Centro de Estudos Japoneses da USP. Tel.: (11) 3091-2426 (secretaria)/3091-2423 (biblioteca). Site: CEJAP

Animais do folclore japonês - Parte I

O Gato e o Cachorro



Mais que animais domésticos, o gato e o cachorro ocupam um lugar especial no cotidiano japonês



Cachorro

Conotações diferentes no Oriente: o cachorro é protetor e o gato, em geral, é um animal envolto em mistérios
O cachorro (inu) chegou ao Japão provavelmente junto com os povos que imigraram do continente para as ilhas no período pré-histórico japonês (Jômon) e, desde essa época, tornou-se um dos animais mais próximos do homem, assim como ocorreu no Ocidente.

Na Era Heian (794~ 1185) a figura do cachorro já aparecia em diversos gêneros literários, como romances, crônicas, ensaios e até em textos budistas. Contudo, uma das histórias mais curiosas sobre a relação entre o cachorro e o homem japonês é a do xogum Tsunayoshi Tokugawa, quinto xogum da Era Edo (1600~1868). Nascido no ano do cachorro no horóscopo chinês, seu amor pelos cães era tão grande que ele, em 1687, criou uma lei proibindo os maus-tratos aos animais. Além disso, criou uma espécie de escritório para assuntos caninos, nomeou vários cães para cargos oficiais, construiu abrigos para cachorros abandonados em torno de Edo (Tóquio) e exigiu que todos esses animais fossem registrados para que pudessem receber benefícios do governo. Essas medidas fizeram com que Tsunayoshi ficasse conhecido pela alcunha inu shogun (xogum cachorro).

Já no folclore japonês, o cachorro aparece como uma figura protetora, tradição essa que veio das crenças ritualísticas do norte da Ásia. Inicialmente no Japão, acreditava-se no cachorro como um ser capaz de incorporar o espírito da divindade da montanha (yama no kami), com o objetivo de proteger as plantações de outros animais selvagens. Com o tempo, o caráter protetor do cachorro expandiu-se para a proteção contra incêndios, roubos e até dificuldades no parto.

Apesar dessa imagem positiva que o cachorro possui no Japão, na Língua Japonesa existem expressões depreciativas que remetem a eles, como: inujini suru (morrer em vão).

Gato

Já o gato doméstico (neko) não é nativo do Japão. Trazido da China e da Coréia juntamente com o Budismo, por volta de 538 (ou 552) d.C., ele veio com o objetivo de proteger os textos sagrados dos possíveis danos causados por ratos. Cada templo budista tinha, no mínimo, dois gatos para essa missão.

O primeiro nome dado a um gato foi registrado na Literatura Japonesa. Myôbu no Otodo (Dama de companhia do Palácio Interior), é uma personagem que aparece na obra Makura no Sôshi (O Livro-Travesseiro) de Sei Shônagon. O nome foi dado a uma gata pelo imperador Ichijo (980-1011) e, segundo a narrativa, o animal gozava de status especial na corte, com damas de companhia encarregadas de seus cuidados.

Contudo, diferentemente do cachorro, o gato possui uma imagem negativa no Japão. Antigamente, acreditava-se que, como a raposa e o texugo, o gato fosse um animal assombrado, além de portador de mau agouro e amigo de fantasmas e demônios. Ainda a sua má reputação pode ser percebida, por exemplo, através de crenças muito presentes no país, como: “mate um gato e será amaldiçoado por sete gerações” ou “quando um gato é morto, eles voltam para se vingar na forma de bakeneko [gato monstro]”.

De volta à Literatura Japonesa há várias narrativas envolvendo esses animais, como a do homem com fobia de gatos, em Konjaku Monogatari (Coletânea de Narrativas de Hoje e de Outrora) ou como a do gato-narrador do romance de Natsume Sôseki Wagahai wa neko de aru (Eu sou um gato).

Um tipo de gato muito popular não só no Japão, mas também no Brasil é o manekineko, uma pequena estátua em forma de gato sentado com uma de suas patas erguida. A origem dessa imagem encontra-se numa lenda popular em que um casal de velhinhos, donos de um pequeno estabelecimento comercial, cuidou de um gato que estava ferido. Como retribuição, o gato começou a atrair clientes para a loja erguendo a pata para as pessoas que por lá passavam. Dessa forma, segundo a crença, o manekineko que tem a pata direita erguida atrai dinheiro e aquele que tiver erguida a pata esquerda atrai fregueses.

O curioso é que, ao contrário do que se pensa no Ocidente, no Japão não se acredita na eterna rivalidade entre gatos e cachorros, mas sim entre cachorros e macacos.
Colaboradores: Aline Majuri Wanderley e Pedro Ferreira Perrenoud Marques
Revisão: Profa. Dra. Junko Ota
Crédito
Bolsistas de Toyama 2005/2006, do curso de Língua e Literatura Japonesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Coordenação: Prof. Dr. Koichi Mori. Assessoria técnica: Patrícia Izumi, Centro de Estudos Japoneses da USP. Tel.: (11) 3091-2426 (secretaria)/3091-2423 (biblioteca). Site: CEJAP